O Brasil atravessa um momento político e econômico dificílimo, mas isso não deve ser tomado como alegação para esfriar o andar das privatizações e concessões dos serviços de saneamento básico. Afinal, por volta de 32 milhões de habitantes ainda carecem de água potável e falta esgoto a cerca de 90 milhões. Corte para o agronegócio: radares setoriais atestam que, de 2019 a 2040, devem ser incorporados 4,2 milhões de hectares irrigados, incremento correspondente ao aproveitamento de 30% do potencial efetivo de 16.7 milhões de hectares.

Estes dois mundos da infraestrutura e irrigação, tão contrastantes quanto repletos de oportunidades, compõem as vigas mestras da trajetória de 40 anos da Asperbras nos redutos de tubos e rotomoldados. Constituída em 1985 por Francisco Colnaghi e impulsionada também por seus filhos Francisco Carlos Jorge e José Roberto, a transformadora de PVC e polietileno de alta densidade (PEAD) decolou a ponto de, na selfie atual, abranger seis plantas em unidades em Penápolis (SP), Simões Filho (BA) e Macaíba (RN). No pano de fundo, o tino empreendedor da família Colnaghi desembocou na constituição da holding Colpar Brasil, entre cujas unidades de negócios figura a Asperbras, contemplada agora com aporte de US$ 50 milhões na operação de PVC em Penápolis e, entre os demais investimentos programados para o parque industrial da empresa, consta a produção de tubos corrugados e de grandes bitolas de PEAD, para drenagem e esgoto. Nesta entrevista, Francisco Carlos Jorge Colnaghi, vice-presidente do conselho de administração da Colpar Brasil, assinala os pontos marcantes do percurso trilhado desde 1985 pela Asperbras e sinaliza os próximos passos da expansão ininterrupta.

Há 40 anos, a Asperbras estreava anos voltada para a fabricação de quais tipos de implementos agrícolas? E por que demorou 19 anos para embarcar em tubos de irrigação?
Quando a empresa foi fundada, em 1966, atuávamos com implementos agrícolas básicos, como grades, arados e pequenos equipamentos para mecanização. O negócio era essencialmente de revenda, mas logo percebemos que o produtor rural precisava de soluções completas de irrigação, não apenas peças isoladas. Foi esse entendimento — vender sistemas integrados de tubulações, pivôs e bombas — que nos levou a desenvolver a fábrica de tubos de aço zincado em 1985, já sob a razão social Colnaghi Irrigação e Implementos Agrícolas Ltda. O intervalo de 19 anos até construirmos a fábrica própria refletiu a maturação natural do agronegócio no Brasil e nossa decisão de investir apenas quando houvesse escala e tecnologia adequadas. E foi dessas necessidades que depois surgiu a fábrica de tubos de PVC, parte importante dos sistemas de irrigação.

“Estão no nosso radar tubos de PVC biorientado e de grandes diâmetros”
Francisco Carlos Jorge Colnaghi, Colpar Brasil / Asperbras

 

Quando a empresa entrou no mercado de tubos prediais e de tubos de saneamento? Tratam-se de dois segmentos fora do agronegócio, a vocação original da Asperbras. O que motivou essa guinada para em materiais de construção, segmento bastante disputado e no qual a empresa não era especializada?
Desde os primeiros anos da fábrica, enxergamos o crescimento dos mercados predial e de irrigação. Em meados dos anos 1990, a demanda por saneamento básico explodiu e a experiência em PVC nos permitiu diversificar a atuação. Essa guinada se deu para que se pudesse utilizar a mesma excelência em extrusão para atender um país carente de redes de água e esgoto de qualidade.

Qual o estímulo para ingressar na rotomoldagem em 2002?
A pecuária e o saneamento pediam produtos inovadores. Daí porque entramos na área de rotomoldagem. De início, para fabricar cochos e outros itens para a pecuária e, depois, poços de visitas e inspeção em polietileno (PE). Hoje somos líderes nacionais nessa linha, que garante vedação perfeita e evita contaminação do solo.

Qual a atual capacidade total da Asperbras para tubos e conexões de PVC, tubos de PEAD e rotomoldados?
Atualmente produzimos cerca de 60.000 t/a de tubos e conexões em PVC e 14.000 em PEAD, além de 1.200 t/a em rotomoldados.

A Asperbras Tubos e Conexões integra a holding Colpar Brasil, com negócios em urbanismo, painéis MDF, energia limpa, agronegócio e lácteos. Qual a expectativa para a participação do negócio de rotomoldagem/tubos e conexões de plástico na receita da holding este ano?
A Colpar Brasil reúne hoje cinco empresas. Mantemos a política de não divulgar faturamento consolidado, mas posso dizer que tubos, conexões e rotomoldagem respondem por fatia significativa e crescente da receita, com expectativa de avanço em 2025, à medida que novos projetos de saneamento e irrigação se concretizam.

Quais os tipos de tubos plásticos para uso predial e/ou de saneamento que hoje não constam do mostruário da Asperbras e que devem ingressar em breve neste portfólio?
Seguiremos focados em saneamento e irrigação, áreas em que nos especializamos. A linha predial atualmente está restrita a algumas localidades do Nordeste, onde temos posição consolidada. Estão no nosso radar tubos de PVC biorientado e de grandes diâmetros.

O site da Asperbras situa a empresa como quarta indústria de tubos e conexões de PVC no Brasil. Qual a fonte dessa pesquisa? Quais os diferenciais que impulsionaram o crescimento da Asperbras em tubos e conexões de PVC, mercado disputado com dois gigantes e dezenas de indústrias médias e menores?
Na verdade, tratam-se de dados setoriais focados em saneamento e irrigação que nos colocam entre as quatro maiores fabricantes de tubos e conexões de PVC em nossos 40 anos de história. O diferencial? Produtos de alta qualidade, fábricas estrategicamente localizadas e atendimento técnico especializado — enquanto grande parte da concorrência prioriza o mercado predial de construção civil.

Impulsionada pelo agronegócio, a região centro-oeste se destaca hoje pelo crescimento econômico. Qual a possibilidade de a Asperbras desfrutar esse cenário com planta local de tubos e conexões para irrigação e/ou saneamento?
Estamos sempre analisando novas oportunidades de negócio e expansão, mas os próximos investimentos se concentrarão nas regiões onde já operamos — Sudeste e Nordeste, garantindo eficiência logística e qualidade.

Na garupa de investimento divulgado de R$ 50 milhões, Asperbras anuncia expansão – em curso até outubro- das suas capacidades de tubos e conexões. A partir daí, quais passam a ser os indicadores do potencial produtivo?
Estamos dobrando a capacidade de PVC da planta de Penápolis (SP), adicionando cerca de 10.000 t/a para melhor atender os mercados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e a região sul. O projeto inclui novas extrusoras e injetoras de última geração, reforçando nossa liderança.

Qual a motivação para esse investimento de R$ 50 milhões na manufatura num momento em que o setor de materiais de construção é penalizado por juros abusivos, escassez de crédito, inflação e encarecimento das resinas? Não seria melhor por enquanto investir no mercado financeiro?
Mesmo diante de juros altos e dos custos de resina, acreditamos que saneamento e irrigação são necessidades permanentes do Brasil. Investir agora é estar pronto para a demanda crescente e para os programas públicos de infraestrutura. Para nós, indústria é compromisso de longo prazo – preferimos aplicar em capacidade produtiva e geração de empregos a buscar ganhos financeiros de curto prazo.

Fonte: Plástico em Revista

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